Numa visita ao Museu Municipal, encontramos o Nuno.
De palavra fácil, muito atencioso, discorremos bastante sobre o futebol de
Santa Rosa. Tanto que resolvemos transformar nossa conversa em entrevista. Vamos
lá.
Quem é
Nuno? -Meu nome verdadeiro é Valdir
Weiss, nascido em 1945, na cidade de Guarani das Missões/RS. Vim para Santa Rosa,
aos 5 anos, acompanhando minha família. Ninguém me conhece pelo nome e sim pelo
apelido de Nuno, adquirido por causa do futebol. Aos 14 anos comecei jogar no 1º
de Maio. Depois, joguei no Ferroviário, Sepé Tiarajú, Aliança e A.A. Real. Sou
aposentado como servidor municipal e continuo na ativa como guardião de um
grande patrimônio: o Museu Municipal de Santa Rosa.
Seu
primeiro clube foi o 1º de Maio. Fale sobre sua trajetória no clube: Como já falei, comecei a jogar com 14 anos. Nunca
disputei jogos nas equipes de aspirantes. Sempre fui titular em todos os clubes
que passei. Jogava em qualquer posição do ataque. O campo do 1º de Maio era à
esquerda na descida da Borges de Medeiros, na curva, antes da ponte do Rio
Pessegueiro, saída para Giruá, hoje Vila Piekala. Do outro lado da avenida, na antiga
Baixada do Pessegueiro, jogava a Academia Liverpool, que pouco durou. O nosso
campo era muito bonito, uma boa grama, dava para rolar bem a bola. O uniforme
era alvi-verde. Disputávamos muitos jogos com times de Ijuí e Santo Ângelo. Era
um bom time. Fomos campeões do futebol menor em 1967. Eu gostava muito do 1º de
Maio. O domingo era reservado para jogar lá. No sábado até poderia atuar para
outra equipe, mas o domingo era sagrado para o 1º de Maio. Eu jogava bem. Chutava
tanto com a perna direita como com a esquerda. Tanto fazia, com bola rolando ou
na cobrança de faltas. As vezes eu
jogava nos sábados e também no domingo. Aos sábados a noite íamos ao cinema e
depois direto para casa, pois, no domingo tinha o jogo. Os clássicos da época
eram quando se defrontavam entre si, o 1º de Maio, o Prenda(time do
frigorífico), o Ypiranga da Vila Sulina e o Serrano do KM 3.
Recordo muito das caminhadas que fazíamos para jogar. Íamos de
transporte até o Bairro Cruzeiro e de lá a pé até o Lajeado Reginaldo, no campo
do Farroupilha. Depois do jogo voltávamos também a pé, de lá até a Avenida
Borges de Medeiros. Era uma baita distancia, mas se enfrentava.
E, no
Ferroviário, como foi sua participação? Pois é. Um grupo de pessoas deixou o 1º de Maio. Eu o Nenê Reihner, o
Davi Schütler, os três irmãos da família Batista, o Valtair, o Valdir e o João
Carlos, o João Wandenvert, o Canhoto, é os que me lembro e então fundamos o
Ferroviário. Deixamos o que tinha, fardamento, troféus, etc. para o 1º de Maio,
que mais tarde transferiu-se na antiga Baixada e posteriormente para um campo
na Vila Planalto, até encerrar suas atividades. O campo do Ferroviário se
localizava na saída para Cândido Godoy, na propriedade da família Schütler, em
frente hoje da Vila Auxiliadora. O Ferroviário é o mesmo assumido mais tarde
pelo saudoso Pedro Motta, tantas vezes campeão municipal. As corres do
Ferroviário era vermelho e branco.
O Senhor
teve uma boa passagem também pelo Sepé Tiarajú. Foi um bom
momento como jogador? Sim. Eu estava com 22 anos. Fomos disputar o Campeonato
Estadual de Amadores. Lá eu era remunerado. Ganhava para jogar. O alvi-azul
montou um bom time, mas não foi longe. Lembro de dois jogos, que me marcaram
muito. Ambos com o Riograndense de São José do Inhacorá, que na época ainda era
distrito de Três de Maio, em que marquei 5 gols. Recordo que jogavam o Pompéia,
o Giba, o Quindó, o Gordo (João Fortes), Miro, Orestes e os irmãos Uca e Iba
que moravam da Vila Nova. No primeiro jogo, na casa deles, lá em São José, num sábado a
tarde, o Maschio e o Presidente, Professor
Dorival Barcelos, de táxi, me buscaram em casa e fomos para o jogo com
somente 13 atletas. Fomos se fardando no ônibus, durante a viagem. Estávamos bastante
atrasados. Quando lá chegamos já estavam em campo o Riograndense e o trio de
arbitragem. Estavam felizes, pois achando que ganhariam por WO. Foi quando
aparecemos. Entramos em campo, em com dois gols meus, ganhamos o jogo. O
Spíndola, que na época trabalhava na Rádio Sulina, foi junto para fazer a
reportagem. No segundo jogo, no Carlos Denardin, que também foi o último que
disputei pelo Sepé, tínhamos somente 10 atletas para o jogo. Foi então que
apareceu o Gordo (João Fortes), que havia chegado de volta a cidade (parece que
vindo de Bagé), utilizou a ficha de seu irmão, que eram muito parecidos, imitou
tão bem a assinatura, que os fiscais do jogo não perceberam. O Gordo completou
os onze. Jogamos sem reservas. Neste jogo fiz três gols. O primeiro, recebi a
bola no meio do campo e fui driblando até fazer o gol. Ainda no primeiro tempo
Pedro (lembro o nome do jogador) empatou para o Riograndense. Numa rápida
escapada, ainda na primeira etapa, marquei o segundo. Eu estava fisicamente bem
preparado. Corria muito. No segundo tempo alguns companheiros do time me
isolaram, mas mesmo assim, fiz o terceiro e o Alfonso o quarto. Ganhamos por 4 a 1. Foram dois jogos que me
marcou muito.
Paladino e
Aliança eram na época, os grandes times da cidade. Pelo seu futebol, poderia ter jogado em ambas equipes. Faltou convite de ambos para jogar? O que
houve? Recebi convite do Aliança, numa oportunidade. Fiquei pouco por lá, pouco me lembro daquela
passagem. No Paladino nunca joguei. Eles traziam muitos jogadores de fora, de outras
cidades para os dois times. Eram todos remunerados. Lembro do Dr. Monte Alvar,
do Paladino e do Francisco Berta do Aliança, que comandavam os dois times.
O Senhor
colaborou também na fundação da Associação Atlética Real? Foi o último clube que joguei, além de ajudar na sua
criação. Até hoje participo colaborando. A fundação da A. A. Real foi na data
de 02 de abril de 1969. Possui estatuto constituído legalmente, com todos os
registros. Suas cores são verde e vermelho, como a Portuguesa de São Paulo.
A A.A. Real iniciou suas atividades no velho campo da
baixada do Pessegueiro, na Borges de Medeiros, onde era o antigo estádio, Depois
a Prefeitura negociou o terreno para uma empresa se instalar no local e nos
repassou em comodato por 10 anos o campo do Soni, na Vila Planato. Faz uns
cinco anos que estamos lá.
Quando o
Senhor parou de jogar futebol? Eu
estava na A.A. Real. Aos 31 anos sofri uma lesão no joelho e tive que fazer uma
cirurgia com o Dr. Medina. Fiquei hospitalizado durante duas semanas. Não deu
mais. Parei de vez como jogador de futebol.
Para
finalizar, o que o Senhor gostaria de acrescentar? Olha. Eu trabalho aqui no museu. E não tem nada que
trata do nosso futebol. É uma pena, porque é a nossa história que se perde no
tempo. Gostaria que as autoridades do
município fizessem alguma coisa para preservar a memória do nosso futebol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário