sábado, abril 21, 2012

Crônica

SANTOS 100 Anos: Eu vi aquele time do Pelé jogar.

                                                                                            Por Milton H. Schwerz

Era férias de inverno de 1961.  Iam para Porto Alegre os primos, Egon Valter Schwerz(11 anos) e Milton Harvey Schwerz(14 anos), até a casa de Lauro Daubermann e esposa Isolde, tios de Egon e primos do Milton, passar alguns dias com o casal, moradores da rua Cristóvão Colombo no centro  de Porto Alegre.
Foram de 'pullmann', da Ouro & Prata, assim eram denominados os ônibus dessa empresa, pois na carroceria aparecia o nome do fabricante.
Na viagem, paramos ao almoço em Soledade. Várias pessoas ficavam deslumbradas, pois dois garotinhos viajavam sozinhos, um cabeça preta e outro de cabeça branca (cabelos). Foram servidos e sentados tranqüilos ao almoço, como se fossem gente grande. Senhoras com seus filhos pequenos vinham conversar conosco.
Chegamos a Porto Alegre, eram 19 horas e 30 minutos. Saindo de Santa Rosa às 5 horas.  Levamos 14 horas e meia de viagem. Hoje se leva 7 horas de ônibus e de auto faz-se em 6 horas.
Como o casal anfitrião tinha um filho de cabelos ruivos, em torno de uns 7 anos, imagine a Isolde saindo com 3 'filhos', cada um com cabelos de uma cor. Nas lojas, as atendentes vinham bater um papo conosco e ficavam admiradas. Perguntavam de onde a gente era e eu, o mais velho, tinha que dar as devidas explicações. Quantos sorvetes a gente tomou e outras guloseimas que a tia Isolde nos fornecia. Lembro-me do primeiro almoço na moradia deles. Ela preparou alguns pratos e no de arroz introduziu umas lindas ervilhas. Na hora de comer, o Egon e o Milton colocavam as ervilhas de lado. Imagine o constrangimento da querida tia Isolde, pois as duas figuras não gostavam do cereal.
Jogávamos bola na calçada da rua Cristóvão Colombo, de pés descalços, como éramos acostumados a jogar em Cruzeiro(Santa Rosa). Eles moravam no início da rua, isto é, na primeira quadra. Acabamos queimando a sola dos pés. Mais de um mês depois, jogando num gramado de Cruzeiro, levei tremendo susto, pois todo o couro do solado saiu, imaginando como iria caminhar. Mas acima desse velho couro, já havia regenerado outro. Ufa!
Mas, o mais gostoso da viagem, foi quando Lauro, num certo meio-dia, mostrou-nos ingressos para o jogo Grêmio x Santos, pela Taça do Brasil de 1961. Era a mesma competição de hoje, a Copa do Brasil. Um jogo em casa e outro fora, só não havia o gol qualificado fora do seu domínio.
Lá fomos nós, em torno das 17horas e meia, ao Estádio Olímpico, sendo que o jogo iniciava pelas 21 horas. Conseguimos um bom lugar, central das arquibancadas. Foi um momento inesquecível para nós dois interioranos.
Pelo lado do Grêmio estavam o goleiro Alberto, zagueiro Airton, lateral Ortunho, volante Elton, meia Milton Kuelle, atacante Lumunba, meia Gessy, ponta vieira, zagueiro  Ênio  Rodrigues.
Pelo Santos - Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe, que se tornariam campeões mundiais naquele ano e bi em 1962, uma verdadeira máquina de jogar futebol.
Vimos a famosa tabela área de Pelé com Coutinho. Um Gilmar seguro no gol.
O Grêmio saiu na frente, jogada pela ponta esquerda, com Paulo Lumumba, desferindo uma bomba de pé esquerda, no ângulo superior de Gilmar, batendo ainda no travessão e entrando. Foi uma loucura nas arquibancadas, sair na frente e com um gol espírita.
Depois o Santos mostrou porque seria campeão mundial daquele ano. Venceu por 3x1, lembro que Pelé marcou um gol, mas não lembro mais dos outros dois.
Faz só 51 anos que isso ocorreu. Lembro da tabela que o Rei fazia nas canelas dos volantes e zagueiros do tricolor. Ele conduzia a bola, chutava na direção das pernas dos adversários e saia com ela dominada na frente. Lembro dos potentes chutes do Pepe, verdadeiros morteiros. Da lentidão do eficiente armador Mengálvio, que jogou no Aimoré e no Grêmio, antes de ir pro Santos. Da velocidade e habilidade de Dorval, ponteiro gaúcho, que jogou também no Grêmio.
Perdemos o jogo, mas, como espectadores, fizemos parte dessa linda história futebolística do fantástico esquadrão das praias santistas. Fomos privilegiados com um grande espetáculo, de um clube que assombrou o planeta, pois países das Américas e da Europa requisitavam esse fabuloso clube de futebol, a dar espetáculos. O Santos jogava no estrangeiro a cada dois dias. Era um absurdo o desgaste físico e também o dos deslocamentos aos países visitados.


Uma das formações do Santos em 1961. 
Em pé: Getílio, Zito, Formiga, Dalmo, Mauro e Laércio; 
                                     Agachados: Tite, Mengálvio, Dorval, Pelé e Pepe.
                                              (Foto: Blog http://celiopegoraro.blogspot.com)

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